Um dos temas que ocuparam, na semana passada, a equipa de gestão do Técnico foi o da identificação dos recursos necessários para a concretização das recomendações de uma comissão nomeada para propor novos modelos de ensino e de práticas pedagógicas. Tendo o Técnico os cursos mais seletivos do ensino superior português, e não tendo os diplomados dificuldades em encontrar emprego, poderá o leitor questionar-se sobre a utilidade deste esforço adicional. A resposta é que acreditamos que os estudantes devem sair da escola sentindo que têm o poder não só de enfrentar os desafios do futuro, mas também a capacidade de aproveitar as imensas oportunidades que os aguardam. Para isso, precisam de conhecer o caminho entre a oportunidade e a concretização.

Na minha crónica de janeiro (“Tem uma mentalidade inovadora?”, 7/01/2019, também aqui) desafiei o leitor a medir a sua mentalidade inovadora. O indicador criado na Universidade de Berkeley baseia-se em sete caraterísticas comuns em pessoas reconhecidas como inovadoras e empreendedoras. Sabemos hoje que a confiança nos outros, a aceitação do fracasso, a forma como lida com pessoas diferentes de si, a sua vontade de mudar o mundo, a capacidade de trabalhar em grupo, o reconhecer que “feito é melhor que perfeito” e a forma como lida com a incerteza são caraterísticas que podem ser desenvolvidas nos processos de ensino, em particular quando se usam modelos de aprendizagem experiencial. Estas competências podem também ser desenvolvidas na prática profissional com um pouco de esforço e reflexão. O que aconteceu quando confiou um pouco mais num seu cliente, fornecedor ou colega? E se sair da sua zona de conforto e se envolver num novo projeto? E se formar uma equipa com outras pessoas para resolver um problema? O que consegue fazer com os recursos de que já dispõe?

Além da identificação das caraterísticas comuns nas pessoas inovadoras, tem–se também procurado entender e tipificar o caminho que percorrem desde a génese de uma ideia até à sua concretização numa solução inovadora. Este é o tema do livro Creativity Rules, onde Tina Seelig, da Universidade de Stanford, resume as conclusões do seu trabalho com o objetivo de ajudar os estudantes a identificar e a aproveitar oportunidades, ou seja, problemas cuja solução possa criar valor. Tina Seelig propõe um ciclo de invenção constituído por quatro passos.

Este ciclo começa com a imaginação. Já terá provavelmente constatado que a sua imaginação era mais fértil quando era criança. Uma criança consegue encontrar mais usos para um objeto do que um adulto por ter menos experiência da forma habitual do seu uso. Os estudantes de arte desenvolvem processos de observação profunda e demorada do mundo que os rodeia, para descobrirem detalhes que passam despercebidos numa análise superficial. O envolvimento na observação e conhecimento profundo de um problema permite uma visão de um futuro sem ele. Estas sequências de observação e visão poderão ajudá-lo a identificar as oportunidades a prosseguir.

O segundo passo é o da criatividade. O provérbio “a necessidade aguça o engenho” sugere que somos mais criativos quando temos uma motivação forte. O autor Daniel Pink diz-nos que somos mais motivados por problemas escolhidos por nós (autonomia), suficientemente desafiantes para as nossas capacidades (mestria) e a que temos razões para dar maior importância (propósito). Por outro lado, o engenho requer a prototipagem e experimentação que fazem a ideia avançar para além da imaginação. A combinação da sua motivação para resolver o problema com os resultados das experiências das suas tentativas de solução ajudará a decidir a passagem ao nível seguinte.

O passo seguinte é o da inovação. Enquanto no nível de criatividade criou soluções que são novas para si, uma solução inovadora terá de ser nova para o mundo. Este nível exige um compromisso maior da sua parte e que pode ser preterido no meio das coisas urgentes que tem para fazer. O foco numa oportunidade é, simultaneamente, uma escolha e uma decisão de aumentar a importância na sua agenda. Nesse tempo, irá procurar formas de reenquadrar o problema na busca de soluções diferentes. As soluções originais têm origem em variadas perspetivas questionando a própria pergunta para a qual procura resposta: quer saber qual a melhor ponte ou a melhor forma de passar para a outra margem?

O último passo é o do empreendedorismo. Na posse de uma solução inovadora precisa de usar a sua resiliência para a concretizar e lançar no mundo. Esta não será, em geral, uma tarefa para fazer sozinho. Precisa de inspirar outros a juntarem-se a si neste objetivo comum, pessoas diferentes de si mas disponíveis para trabalhar em equipa e com a mesma confiança de o conseguir. Serão estas pessoas que irão acompanhá-lo no próximo ciclo de imaginação, criatividade, inovação e empreendedorismo.

Tal como no desenvolvimento da mentalidade inovadora, também sabemos que é possível aprender as competências necessárias para o ciclo de invenção. Não basta estar preparado para os desafios, é preciso também saber aproveitar as oportunidades.

Adaptado da minha coluna no Jornal i de 7 de maio de 2019